Canelinha acordou cedo no domingo, mas o som que ecoava pelas encostas da cidade não era o de sinos de igreja ou de rádios matinais — era o rugido das motocicletas, selvagens e imponentes, cortando o ar como trovões mecânicos. A cidade que está ficando conhecida como capital brasileira do motocross, com seus pouco mais de 12 mil habitantes, viu sua população quase triplicar neste fim de semana com a chegada de quase 30 mil apaixonados por velocidade, adrenalina e lama para a 2° etapa do Brasileiro de Motocross.
Foto: Internauta TopElegance
No Parque de Eventos da Fazenda Silva Neto, o que se viu foi um espetáculo que ultrapassa a simples ideia de competição. O barro voava como confete em carnaval, as manobras pareciam coreografias ensaiadas com os deuses do risco, e os olhos atentos do público mal piscavam diante da dança agressiva dos mais de 600 pilotos vindos de 19 países. Canelinha, por alguns dias, não foi apenas uma cidade: foi palco, foi arquibancada, foi a alma pulsante do motocross latino-americano.
A pista parecia viva. Cada curva, cada salto, cada aterrissagem brutal narrava uma história de superação, técnica e coragem. Os motores gritaram em uníssono, e as mãos firmes nos guidões traçaram destinos de campeões.
No segundo dia da etapa, quatro categorias tomaram o centro do palco. A jovem Luanna Neves Martinez Silva conquistou o topo da MXF, deixando claro que o futuro do motocross tem nome — e é feminino. Francesco Copetti, ainda com rosto de garoto, levantou a taça da MX Junior como um veterano. Bernardo Tiburcio dominou a MX2 com a leveza de quem dança sobre a terra, e na principal categoria, a MX1, o francês Stephen Rubini fez do barro catarinense seu território, vencendo como um rei estrangeiro em solo conquistado.
Cerca de R$ 10 milhões giraram na economia local: hotéis lotados, restaurantes sem mesas vazias, postos com filas de motos e sorrisos. Foram mais de 2 mil empregos temporários e uma memória coletiva que vai ecoar muito além do ronco dos motores.
Canelinha, neste fim de semana, não apenas sediou uma competição. Ela viveu uma epifania de velocidade. E enquanto o último capacete era guardado e os últimos pingos de lama secavam nas botas, ficava no ar uma certeza: o motocross, por aqui, não é apenas esporte.