Esporte

Brasil chega às 400 medalhas em Jogos Paralímpicos

Brasil está na quarta colocação na classificação geral

Por Daianny Camargo
03/09/2024 11:30:00

Uma marca emblemática e que simboliza toda a força do Brasil no esporte paralímpico foi atingida e celebrada neste domingo, 1º de setembro, durante o quarto dia de competições dos Jogos Paralímpicos de Paris. As quatro medalhas arrebatadas hoje – prata no tiro esportivo, com Alexandre Galgani, e bronze com Lídia Cruz e com revezamento 4 x 100m livre S14 (atletas com deficiência intelectual), e, finalmente, o bronze de André Rocha no lançamento de disco da classe F52 (atletas que competem sentados) – permitiram ao país chegar ao 400º pódio em Paralimpíadas.

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Com os resultados deste domingo, o Brasil chegou a 27 medalhas na França (oito ouros, quatro pratas e 15 bronzes) e está na quarta posição no quadro geral de medalhas, atrás apenas da líder China, que tem 71 pódios (33 ouros, 27 pratas e 11 bronzes); da Grã-Bretanha (43 medalhas: 23 ouros, 12 pratas e 8 bronzes) e dos Estados Unidos (27 medalhas: 8 de ouro, 11 de prata e 8 de bronze). 

Quadro de medalhas

Quadro de medalhas ao fim do quarto dia de competições: Brasil em quarto lugar

O HOMEM DA 400ª – O resultado que marcou a conquista da histórica 400ª medalha do Brasil em 12 Paralimpíadas disputadas até aqui pelo país (incluindo a de Paris) veio com o paulista André Rocha, estreante em Jogos Paralímpicos. Competindo no lançamento de disco da classe F52 (atletas que competem em cadeiras de rodas), ele assegurou a medalha de bronze com a marca de 19,48m.

“Que bacana, né? A medalha de número 400. Eu não sabia dessa informação, fiquei sabendo agora, mas, independente disso, eu estou muito feliz. Estar hoje numa Paralimpíada era o meu grande sonho. Fiquei fora de duas, fiquei fora do Rio (2016), fiquei fora de Tóquio (2021). É um momento único, um estádio que, pelo que eu escutei, tinha uma média de 70 mil pessoas. É surreal estar vivendo tudo isso daqui. Eu quero só agradecer. Agradecer a Deus, agradecer a minha família, agradecer a minha esposa, que hoje é aniversário dela e ela está aqui com meus filhos, me apoiando como sempre”, afirmou André Rocha.

“Toda a equipe que se esforça para que a gente tenha o melhor resultado. Agradecer ao meu treinador, Diego Cascardo, que também está com a gente o tempo todo, a todos os meus patrocinadores, apoiadores, todas as pessoas que mandaram mensagem, todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para que esse momento acontecesse. Seguimos. Agora encerrou o ciclo e que venha o próximo! Que a gente esteja ainda mais preparado para defender bem o Brasil”, prosseguiu.

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O paulista André Rocha assegurou a medalha de bronze com a marca de 19,48m. Foto: Wander Roberto/CPB

Ele já tem três medalhas em mundiais de atletismo – ouro em Londres 2017 e em Kobe 2024, e bronze em Paris 2023. Nascido em Taubaté, ele chegou a Paris 2024 como o detentor do recorde mundial – 23,80m. Mas, neste domingo, o italiano Rigivan Ganeshamoorthy, que ficou com o ouro, estabeleceu o novo recorde mundial e paralímpico, com 27,06m. O letão Aigars Apinis, com 20,62m, conquistou a prata.

André era policial militar e, durante uma perseguição policial em 2005, caiu de um muro alto que ocasionou uma grave lesão na coluna lombar. Depois de complicações na cirurgia e uma nova e grave lesão na coluna cervical anos depois, ficou com lesões permanentes também nos membros superiores, tornando-se tetraplégico. Conheceu o esporte paralímpico em 2013, em um projeto da prefeitura de sua cidade.

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O paulista Alexandre Galgani conseguiu, neste domingo, a primeira medalha do Brasil no tiro esportivo em Jogos Paralímpicos. Foto: Mateusz Szklarski/ World Shooting Para Sport

PRATA HISTÓRICA – Outro resultado histórico para o Brasil veio com o paulista Alexandre Galgani. Ele conquistou a prata no tiro esportivo, na prova R5 Carabina de Ar – 10 m – Posição Deitado Misto SH2, resultado que marcou a primeira medalha do Brasil na modalidade em Jogos Paralímpicos.
Galgani terminou a disputa com 254,2 pontos, apenas 1,2 ponto atrás do francês Tanguy de la Forest, que ficou com o ouro com 255,4, e bem à frente do japonês Mika Mizuta, que garantiu o bronze com 232,1.

“São 11 anos me dedicando aí praticamente todo dia. E, graças a Deus, consegui atingir. Não atingi a meta minha ainda, que é ouro. Mas bati na trave. Foi por pouco que eu não consegui o ouro dessa vez. Mas ainda vou continuar a luta. Eu ainda vou almejar o ouro, ainda vou buscar ele”, avisou Alexandre, que comentou o fato de ser o pioneiro no pódio para o Brasil no tiro esportivo paralímpico em Jogos Paralímpicos.

“A história a gente fez desde o começo, né? Desde quando eu comecei no tiro eu sempre me dediquei o máximo pra conseguir brilhar. E fui plantando, plantando, plantando, e hoje, graças a Deus, consegui colher, com a ajuda de todos vocês. É só agradecer a Deus, agradecer a família, minha esposa, todo mundo, meu pai, que me colocou no esporte. Agradecer principalmente o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) também. Todos vocês aí do CPB, em nome de todos aí, que dão a força pra gente conseguir chegar aqui e conseguir brilhar”.

Galgani, hoje com 41 anos, sofreu uma lesão na medula aos 18 anos, após mergulhar em uma piscina, bater a cabeça e perder todos os movimentos do corpo. Depois de cirurgias e de uma longa batalha para recuperar parte dos movimentos dos braços, ele começou a praticar tiro esportivo, principalmente devido ao apoio do pai, Sérgio Galgani – que faleceu em 2014, aos 62 anos, em decorrência de um problema no coração enquanto estava com o filho em um campeonato em São Paulo.

Desde então, a cada pódio, a cada conquista, Alexandre se recorda do pai. “Tenho certeza de que meu pai estava lá comigo, subiu no pódio comigo. Ele sempre está comigo, sempre está me ajudando”, disse, emocionado, após a conquista da prata paralímpica.

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Revezamento brasileiro ganhou o bronze nos 4 × 100m livre S14 (atletas com deficiência intelectual) e cravou o novo recorde das Américas. Foto: Douglas Magno /CPB

BRONZES E RECORDES – Na natação, o revezamento do Brasil ganhou a medalha de bronze nos 4 × 100m livre S14 (atletas com deficiência intelectual) e cravou o novo recorde das Américas, com o tempo de 3min47s49. O ouro ficou com o Reino Unido (3min43s05) e a prata, com a Austrália (3min46s37).

O Brasil abriu a disputa com Arthur Xavier Ribeiro e, na sequência, nadaram Gabriel Bandeira, Beatriz Borges Carneiro e Ana Karolina Soares de Oliveira. “A gente vem treinando cada um com um técnico, mas só que a gente sempre chega aqui e sempre está nadando bem. E dessa vez não foi diferente. A gente nadou muito bem e eu estou muito feliz por ter essa equipe. Paris foi diferente. Não tem explicação o público. Em vez da gente ficar com medo, a gente se sentiu mais forte e nadou para cima”, afirmou Ana Karolina, referindo-se aos companheiros e à energia do público na capital francesa.

“A medalha foi bem positiva, mas acredito que o melhor foi a energia ali do revezamento. Acho que cada um agora saiu um pouco mais motivado para a próxima prova”, completou Gabriel Bandeira.

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A carioca Lídia Cruz também saiu da piscina, neste domingo, com um bronze e um recorde das Américas. Foto: Douglas Magno /CPB

A mesma situação, um bronze e um recorde das Américas, marcaram o domingo da carioca Lídia Cruz nos 150m medley SM 4, destinada a atletas com limitações físico-motoras. Ela marcou o tempo de 2min57s16, novo recorde das Américas. A alemã Tanja Scholz ganhou o ouro, com 2min51s31, e Natalia Butkova, dos Atletas Paralímpicos Neutros (NPA), a prata, com 2min54s68.

RECORDE MUNDIAL – Outro fato importante do dia veio com o mineiro Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, que mais uma vez brilhou na natação e quebrou o recorde mundial nos 150m medley da classe SM2 (limitação físico-motora), com o tempo de 3min14s02. Gabrielzinho já conquistou duas medalhas de ouro em Paris e segue na luta por mais pódios na França.

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O craque Nonato marcou dois dos três gols da seleção brasileira contra a Turquia na estreia do Brasil no torneio paralímpico de futebol de cegos. Foto: Alessandra Cabral/CPB

VITÓRIA NO FUTEBOL DE CEGOS – O Brasil estreou com vitória no torneio de futebol de cegos dos Jogos Paralímpicos de Paris. A equipe pentacampeã paralímpica derrotou a Turquia, por 3 a 0, no Estádio da Torre Eiffel, um dos palcos mais icônicos do megaevento, localizado aos pés do principal cartão-postal da capital parisiense. Os gols foram marcados por Nonato (duas vezes, ambas de pênalti) e Jefinho.

A equipe volta a campo nesta segunda (2/9), às 15h30 (de Brasília), para enfrentar os anfitriões franceses, atuais campeões europeus e derrotados neste ano pelos brasileiros no Desafio Internacional, realizado em maio, no CT Paralímpico, em São Paulo.

O Brasil começou o jogo com Luan no gol, além de Tiago Paraná, Jefinho, Ricardinho e Nonato na linha. Mas o técnico Fábio Vasconcelos utilizou seus quatro reservas – Cássio, Maicon, Jonatan e Jardiel – ao longo do confronto. Apenas o goleiro reserva Matheus Costa não entrou.

Além de turcos e franceses, o Brasil vai enfrentar ainda pelo Grupo A a China, campeã asiática e algoz dos brasileiros na semifinal da Copa do Mundo de 2023, disputada em Birmingham, na Inglaterra. O duelo está marcado para terça-feira, às 13h30. No Grupo B, estão Argentina, Colômbia, Japão e Marrocos. Os dois melhores de cada chave avançam às semifinais, que serão disputadas no dia 5. A grande final está marcada para o dia 7 de setembro, às 15h.

BOLSA ATLETA – Dos 280 atletas brasileiros em Paris em 20 modalidades, 274 (97,8%) integram o Bolsa Atleta do Governo Federal, incluindo os 37 da natação. Dos seis que não fazem parte atualmente, quatro já estiveram em editais anteriores. Os outros dois são guias, que correm ao lado de atletas com deficiência visual. O primeiro edital do Bolsa Atleta em que atletas-guia puderam ser contemplados foi o de dezembro de 2023, após a aprovação da Lei Geral do Esporte.

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