Desde a semana passada, quando o Estadão revelou que Luciane Barbosa Farias, conhecida como “Dama do Tráfico” e mulher de um líder do Comando Vermelho no Amazonas, foi recebida duas vezes por assessores próximos de Dino, o governo Lula passou a criticar quem fez as denúncias. Lula prestou solidariedade ao ministro, que estaria sendo “alvo de absurdos ataques artificialmente plantados”.
O próprio Dino afirmou que não vai demitir os assessores que receberam Luciane. Ela foi condenada em outubro a 10 anos de prisão por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas recorre em liberdade. O marido dela cumpre pena de 31 anos de prisão.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, cuja pasta pagou passagens para Luciane ir a um evento em novembro, considerou a divulgação das informações como “ataques difamatórios” e a classificou como uma “tentativa generalizada, por parte de extremistas de direita, de a todo momento fabricar escândalos e minar a reconstrução da política de direitos humanos”.
“Haja empáfia”, afirma o Estadão. “Eis o modus operandi petista. Acham-se superiores mesmo quando seus erros são expostos. Em vez de prestarem as informações ao público e admitirem o erro, atacam genericamente, sem nenhuma prova, politizando infantilmente a questão.”
Estadão diz que Lula deveria se preocupar com a aproximação do crime organizado com o governo
“É estarrecedor”, afirma o Estadão. “O crime organizado atua à luz do dia para se aproximar da política e interferir nela, e o governo do PT parece considerar tudo isso normal.” O jornal nota que a preocupação do governo “não é investigar o caso, tampouco atuar para que a administração pública federal fique menos exposta às investidas políticas das facções criminosas”. “A prioridade petista é defender o companheiro Dino, que estaria sendo injustamente atacado.”
O Estadão lembra que a política de segurança pública do governo Lula é considerada um fiasco até agora, mas Lula só se preocupa com “eventuais consequências políticas do escândalo”.
"Com isso, Lula da Silva reitera o padrão de comportamento adotado até agora na área da segurança pública. Não entendeu a gravidade do problema. Não se preocupa com a população, que sente diariamente os efeitos e todas as sombras que a criminalidade gera sobre a vida em sociedade. Não tem nenhum plano concreto para prevenir os crimes e enfrentar os criminosos. Sua atenção está voltada exclusivamente para as eventuais consequências políticas do escândalo da participação da mulher do traficante ‘Tio Patinhas’ em reuniões do Ministério da Justiça e Segurança Pública."
O jornal afirma que “governar é muito mais do que agir guiado por cálculos político-eleitorais” e “exige um mínimo de comprometimento com o interesse público”. Apesar disso, Lula, mesmo com a revelação de que as facções criminosas têm acesso à alta cúpula da administração federal, “Lula optou por cuidar do interesse do seu ministro que, coitado, não estava sabendo das tais reuniões”.
O Estadão afirma, ainda, que “o governo do PT zela por si e apenas por si” e que “não há reconstrução possível do País onde imperam a irresponsabilidade e a desfaçatez”. E conclui: “O mínimo que o governo poderia fazer seria afastar ou ao menos advertir os secretários envolvidos no caso. Mas o sr. Dino já descartou essa possibilidade, dizendo que, se o fizesse, estaria se ‘desmoralizando’. Conclui-se que ele preferiu desmoralizar o país”.
Fonte: Revista Oeste