O programa Fantástico expôs recentemente uma alarmante rede de criminosos que opera dentro do Discord, um aplicativo popular entre adolescentes.

Fotos: Fantástico/Rede Globo/Divulgação
Nesse território virtual sem leis, predadores estão à caça de menores de idade, explorando sua vulnerabilidade de maneiras hediondas. Uma vez capturadas, as vítimas são chantageadas a cumprir desafios, sob a ameaça de terem fotos íntimas expostas. Essa perturbadora descoberta revelou uma coleção cruel mantida por um dos criminosos, intitulada "backup das vagabundas estupráveis", com pastas contendo nomes de dezenas de meninas violadas, chantageadas, expostas e catalogadas.

Entre essas pastas, foi encontrada a história de uma menina de apenas 13 anos, residente em Joinville. Em agosto de 2022, ela deixou um bilhete e fugiu de casa, atraída por um rapaz com quem entrou em contato através do Discord. Sob a falsa promessa de uma amizade e uma fuga dos problemas enfrentados em casa, a jovem foi coagida a embarcar em uma jornada que a levaria a um pesadelo sem fim.
"No início, eles apenas conversavam, dizendo que ele era seu amigo, que seria divertido e sem adultos incomodando. Ele até enviou um aplicativo de carona para que ela pudesse ir até ele. No primeiro dia, ele forçou relações com ela. Depois disso, eles a levaram para outra casa, onde ela foi drogada e forçada a ter relações novamente. Ela foi espancada e ferida", relatou a irmã da vítima, em meio a lágrimas e dor.
Por duas semanas agonizantes, a jovem foi submetida a abusos sexuais e obrigada a consumir drogas por diferentes agressores. Alguns desses crimes foram transmitidos ao vivo através do próprio Discord. No entanto, meses se passaram antes que as autoridades tomassem conhecimento dessa história terrível.

Viajando mais de 500 quilômetros em um carro de aplicativo, a adolescente acabou em uma casa em São Paulo, juntamente com outros jovens que também haviam fugido de suas casas. Todos haviam sido aliciados por um indivíduo identificado como Carlos Eduardo Custódio, de 21 anos, conhecido como DPE. Foi somente graças à persistência da irmã da vítima, que ofereceu diálogo e apoio emocional, que a adolescente foi convencida a voltar para casa. O diálogo e o acolhimento funcionaram como um antídoto para o pesadelo tóxico que ela vivenciou no Discord.

A prisão de Vitor Hugo Souza Rocha, o responsável pela coleção de pastas denominadas "backup das vagabundas estupráveis", foi um passo importante na investigação. A apreensão de seu disco rígido e seu depoimento auxiliaram a Polícia Civil de São Paulo na identificação de outros dois criminosos: Gabriel Barreto Vilares, conhecido como Law, acusado de ser um dos perpetradores dos abusos sexuais contra a jovem de Joinville, e William Maza dos Santos, conhecido como Joust.

Gabriel e William foram presos na última sexta-feira (23), enquanto Carlos Eduardo Custódio continua foragido. As famílias e os advogados de todos os envolvidos se recusaram a comentar o caso com a reportagem.

Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo está investigando o próprio Discord. O promotor de Justiça Danilo Orlando declara que estão apurando, por meio de um inquérito civil, a falta de segurança na plataforma. Ele ressalta que crimes individuais sempre ocorrerão na internet, mas o que diferencia o Discord é a presença de um discurso estruturado de ódio e um ambiente propício para o planejamento de ataques às vítimas, bem como a transmissão de conteúdo criminoso.

Em resposta às acusações, um porta-voz do Discord afirmou, em entrevista ao Fantástico, que a plataforma "não tolera comportamento odioso". Ele destacou que o Discord é utilizado por mais de 150 milhões de usuários em todo o mundo e que, de tempos em tempos, conteúdo e comportamentos inadequados podem ocorrer. No entanto, a equipe trabalha ativamente para remover esse tipo de conteúdo e investigar grupos que possam representar ameaças a crianças, buscando eliminar esses indivíduos nocivos da plataforma.

Enquanto as investigações continuam e a justiça procura punir os responsáveis, é essencial que a sociedade como um todo esteja alerta para os perigos existentes na internet, especialmente em aplicativos que atraem uma base de usuários jovens e vulneráveis.