notícia

Jornalista do Vale escreve artigo sobre mãe assassinada e emociona milhares de pessoas

A monstruosidade aos olhos da pequena Cecília antes mesmo de nascer

Por Elson Lopes
31/08/2020 08:30:06

O jornalista Jonas Hames da Rádio Super FM de São João Batista debruçado sobre a mesa e aos prantos escreveu um artigo na última sexta-feira (28), que emocionou milhares de pessoas.

No artigo, com onze parágrafos, Hames cria uma ficção e nela descreve uma conversa real, diante dos fatos, entre a mãe e a bebê retirada da barriga da  Flávia Goldinho, assassinada cruelmente em um crime bárbaro na cidade de Canelinha.

“Em lágrimas parei por diversas vezes para tentar conter o choro, diante de tamanha brutalidade jamais vista no Vale do Rio Tijucas” Conta Jonas Hames ainda com a voz embargada.

Vale a pena você ir até o fim na leitura do artigo, mesmo tendo que parar por diversas vezes, para conter o choro, assim como eu, no final podemos nos tornar pessoas melhores e eliminar um pouquinho do mostro que cada um tem dentro de si.

 

 

O barulho da mostruosidade 

Mamãe, que barulhos são esses? Já chegou a hora de eu te ver? Que ansiedade. Estive aqui te sentindo por 36 semanas, ouvindo suas canções e sentindo seu coração compassado ao meu. E essa tua mão carinhosa acariciando essa minha casa passageira. Vamos poder brincar, mamãe. Quero que me ensines tudo. Chegou a hora de a gente se ver, mamãe? Porque toda essa agitação?

O medo, mãe, é muito medo. O que vou encontrar ali fora, mamãe? Papai do céu protege, você repete isso sempre. Eu ouvi você agradecer a ele ontem, por eu estar aqui. Você me desejou de tantas formas, que cada chutinho que dou é pra dizer que te amo. Sabe, essas piruetas é pra você saber que estou bem. Porque seu coração está tão acelerado, mãe.

Daqui de dentro eu vejo muitos monstros, e não estão nos armários, mamãe. Eu vi você arrumando minhas roupinhas, e sei que você não deixou eles entrarem. Estou com medo, e encolhidinha. Que posso eu fazer, mãe, senão ficar quietinha, para que nenhum mal te aconteça? Que posso eu fazer, se não rezar aqueles versinhos que tu me ensinou, ao passar a mão na barriga. Papai do céu, protege.

Estou aqui escondida nesse inviolável lar temporário. Aqui os monstros não chegam mamãe. Mas, porque está tudo tão agitado? Quase ouço suas lágrimas pingando, como bater de latas. Eu prometo que vou ser uma boa criança, e você é a minha mamãe desejada. Lá no céu eu te escolhi. Eu disse pro papai do céu: é a Flávia. Queria ver esse teu sorriso de perto todos os dias, mamãe.

Ontem, quando você se olhou no espelho com espanto, descobriu meu segredinho. Eu e papai do céu tínhamos uma combinação. Você agradeceu ele. E, eu, aqui dentro, também. Ai, você deu aquele sorrisão. Mas, tenho medo, mamãe. Lá do céu, eu vi que os humanos são capazes das maiores atrocidades e não falta para eles nenhuma criatividade e empenho.

Mamãe, porque choras? Quem são esses monstros que invadem nosso santuário e tentam me arrancar daqui? Onde está a sala branca? Porque já não sinto tuas batidas? O que são esses cortes em mim. Não era assim o combinado, mãe. A nossa vivência até aqui tinha sido suave e inexplicável. Onde estão as canções, porque não ouço o papai? Os monstros me pegaram.

Dá para sentir muito, e como dói, mamãe. É dor que não cabe em palavras, lágrimas e que não seca. Eu já estava aqui fazendo planos, mãe. Ia assumir o controle da tua vida. Ia chorar a noite, sentir cólicas e, às vezes, você nem saberia identificar. Mas, iriamos rir muito. Juro que ia adorar ver você falando naquela linguagem de bebê. E me abraçando e beijando muito.

Porque você está com esse par de asas, ajoelhada aqui ao meu lado? Quem são esses monstros feiosos me carregando, mamãe? Você tem o dom de me acalmar, mas não sabia que voava. Porque está de branco, mamãe? Poderíamos tirar uma foto pro álbum, eu sei que você estava planejando. O que são essas luzes e todo esse barulho.

Eu estou assustada, mamãe. Tudo mudou muito depressa. Ontem estávamos passeando, e agora percebo que não vou poder voltar a te ver. E a suspirar com o teu sorriso. Quem vai colocar os meus sapatinhos? Quem vai me proteger dos monstros, mãe? E se eles irem pro meu armário. Que mundo é esse que me arrancou assim, sem mais nem tempo. Guarda-te, porque eu preciso que me guardes.

Já não te sinto mais, mamãe, e nem posso dar minhas piruetas. Vejo esse par de assas. Porque você está triste. Estou com frio e medo. Me guarda, mamãe. Os monstros estão soltos, e fazendo a humanidade chorar. Eles não têm amor parecido com o teu, nem sentem teu abraço quentinho. O mundo não te merece, mamãe. Olha como salivam, são sombras aterrorizantes. Me protege, mãe.

Mamãe, você estará comigo sempre. Eu te desejei. Temos um acordo, não esquece. Com suas asas, poderá estar em todos os lugares. Não me deixa aqui sozinha entre homens-lobos. Ah, no meu aniversário, vou dedicar um pedacinho de bolo pra ti. Sei que estarás ali. Mamãe, pede pro papai do céu colocar amor nas pessoas. Pede pra ele nos livrar do mal. Que lindo você voando, mamãe. Olhe por mim! Olhe por nós! Eu te amo.

Escrito por: Jonas Hames

   

Últimas notícias

® 2016 TopElegance Comunicação e Mídia ME. Todos os Direitos Reservados