Em uma manhã comum em Navegantes, Santa Catarina, algo extraordinário aconteceu. Na calmaria do bairro São Roque — o mais antigo da cidade, onde as fachadas carregam o tempo nas tintas desbotadas — a casa da enfermeira Célia Silva ganhou novas cores, novas formas e, principalmente, um novo sentido. Foi ali que a caravana do projeto “Transforma Fachadas”, idealizado pelo pintor e influenciador Leandro Piovesan e sua esposa, Josy, decidiu estacionar, armada de pincéis, latas de tinta e muita sensibilidade.
Célia havia acabado de se deitar após um plantão noturno quando ouviu a batida insistente no portão. Meio sonolenta, abriu a porta e deu de cara com câmeras, sorrisos e uma proposta inusitada: pintar sua casa, de graça, naquele mesmo dia. Desconfiada, pensou se seria alguma pegadinha de internet. Não era. Era um presente.
— Ficou maravilhosa. Amei de coração, disse ela, emocionada, ao ver o resultado estampado nas paredes que por anos guardaram as histórias de sua família.
As cores foram escolhidas por Célia, num processo de escuta e respeito que Leandro faz questão de manter em cada episódio do projeto. Não se trata apenas de pintar por pintar. Trata-se de devolver dignidade estética e renovar esperanças. Antes da escolha da casa, o casal passa horas caminhando pelas cidades, conversando com moradores, ouvindo histórias, percebendo necessidades.
— Buscamos imóveis mais carentes, pois queremos que seja um momento de transformação na vida delas. Chegamos do nada na casa das pessoas, como uma surpresa boa, conta Leandro, com um sorriso largo e olhos atentos.
Fotos: Marcos Porto, Divulgação
Desde 2020, o “Transforma Fachadas” já passou por diversas cidades brasileiras. Com apoio de empresas de tinta que doam os materiais, o casal coloca a mão na massa — literalmente. As histórias de cada casa são contadas nas redes sociais, onde a página @eusoupintor já reúne quase meio milhão de seguidores, atraídos não só pelo talento, mas pela humanidade que brota de cada vídeo.
É um trabalho simples, mas poderoso. Porque, em tempos de tanto cinza — nas cidades, nos noticiários, nas rotinas — há algo de profundamente simbólico em colorir paredes esquecidas. É uma forma de dizer, sem palavras: "você importa".
A casa de Célia, agora, é também vitrine de um gesto. De um projeto que não pinta apenas fachadas, mas também sorrisos, e que acredita que toda parede, por mais gasta que esteja, merece uma nova chance de brilhar.